Menina, não sei dizer,
Vendo-vos tão acabada,
Quão triste estou por vos ver
Fermosa e mal empregada.
Quem tão mal vos empregou,
Pouco de mim se doía,
Pois não viu o quanto me ia
Em tirar-me o que tirou.
Obriga o primor que tem
Lindeza tão extremada
Que digam quantos a vêem:
- Fermosa, e mal empregada!
Tomastes da fermosura
Quanto dela desejastes
E com ela me guardastes
Pera tão triste ventura.
Matáveis sendo solteira,
Matais agora em casada;
Matais de toda a maneira,
Fermosa, e mal empregada.
Luiz Vaz de Camões, "Lírica"
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